quarta-feira, 24 de março de 2010

Campanha da Fraternidade 2010

(Síntese do texto base publicada pelo Regional Nordeste 1 da CNBB WWW.cnbbne1.org.br)

1. Tema: Economia e Vida

2. Lema: “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt.6,24)

3. Objetivo geral

"Colaborar na promoção de uma economia a serviço da vida, fundamentada no ideal da cultura da paz, a partir do esforço conjunto das Igrejas Cristãs e de pessoas de boa vontade, para que todos contribuam na construção do bem comum em vista de uma sociedade sem exclusão".

4. Objetivos específicos

1. Sensibilizar a sociedade sobre a importância de valorizar todas as pessoas que a constituem;
2. Buscar a superação do consumismo, que faz com que ‘ter’ seja mais importante do que as pessoas;
3. Criar laços entre as pessoas de convivência mais próxima em vista do conhecimento mútuo e da superação tanto do individualismo como das dificuldades pessoais;
4. Mostrar a relação entre fé e vida, a partir da prática da justiça como dimensão constitutiva do anúncio do evangelho;
5. Reconhecer as responsabilidades individuais diante dos problemas decorrentes da vida econômica, em vista da própria conversão.

5. Ver a realidade: a vida ameaçada

“Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e dava banquete todos os dias. E um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, que estava caído à porta do rico”
(Lc 16, 19 – 21)

O número de pobres é incontável

  • FAO
    Fome no mundo: 1,02 bilhões
  • IETS Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade: no Brasil
    - 10,7 milhões de indigentes
    - 43,6 milhões de pobres sem acesso às necessidades básicas de alimentação, saúde, habitação, vestuário, educação, transporte, lazer e outras.
  • A globalização e o desenvolvimento não resolveram o problema da justiça social

OS POBRES NÃO SÃO APENAS DESTINATÁRIOS DA NOSSA COMPAIXÃO

Urgência nos processos de inclusão: considerar todas as pessoas; admirar as pessoas por seus diferentes valores; não apenas socorrer: ouvir, levar a sério, valorizar. Pobreza não é fatalidade; havendo uma cooperação solidária, é possível aumentar o desenvolvimento das pessoas em nível: Material, Intelectual, Afetiva, Espiritual; São obstáculos a serem superados: consumismo para satisfazer necessidades e interesse; Maximização do lucro segundo informação da ONU em relação as metas do milênio em 2008, os bancos ganharam mais dinheiro do que todas as nações pobres do mundo em 50 anos; há um desenvolvimento desequilibrado desde os tempos da Colônia: Alto nível e pobreza; reforço da riqueza da classe dominante; analfabetismo e má remuneração.

Desenvolvimento e aumento da dívida pública:

O projeto de industrialização, foi construído na base da cumplicidade entre os detentores do poder e da riqueza do Estado e de dinheiro estrangeiro, à custa de empregados mal renomeados e da massa dos pobres impossibilitado de usufruir dos resultados do crescimento do país. O desenvolvimento fracassou politicamente, mas deixou uma herança de dívidas públicas enormes – interna e externa – que são pagas, direta e indiretamente pela população tanto por meio de elevados impostos, como através de serviço públicos subtraídos ou negados à população. A Auditora da dívida pública prevista na constituição Federal, nunca foi feita.

As grandes dívidas:

Divida interna: Início do governo FHC: R$ 62 bilhões; Início do governo Lula: R$ 687 bilhões; Dezembro de 2008: R$ 1,6 trilhões.
Dívida externa: Dezembro de 2008: US$ 267 bilhões
Constata-se: BA – 1.274.000 de indigentes; MA – 1.078.000 de indigentes; CE – 991.120 indigentes; Fracasso da reforma agrária; Agronegócio acima das necessidades do povo; Corrupção em todos os níveis; 4.800.000 famílias sem terra.

A degradação do meio ambiente:

Brasil: um dos maiores poluidores do mundo pelo desmatamento, as queimadas e segundo a ONG WWF: o Brasil é o quarto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo.

Quanto às condições de trabalho:

A organização do trabalho é precária tanto no trabalho formal, quanto no Trabalho informal, pois ainda há trabalho escravo, sazonal e infantil, além do desemprego e do subemprego que são também estratégias de sobrevivência.

Poder e direitos sociais:

Os processos de desenvolvimento econômico deveriam implicar em uma distribuição dos benefícios, mas deveria haver também uma partilha do poder entre os diversos atores sociais. Assim, haveria uma redução das desigualdades sociais, uma promoção do bem comum e a superação de preconceitos e discriminações.

Qual tem sido a respostas do estado:

Aumento da dívida pública que consome os recursos em pagamento de juros e amortizações e dificulta investimentos na área social.

Orçamento do Estado:

30,57% - dívida pública: 11.73% corresponde a: 4,81% - saúde; 3,08% - Assistência Social 2,57% - educação 0,59% - Segurança Pública; 0,27% - Organização Agrária; 0,02% - Habitação; 0,16% - Gestão Ambiental; 0,12% - Urbanismo; 0,06% - Cultura; 0,05% - Saneamento. Tudo isso se torna mercadoria para o consumismo onde a ganância é ilimitada e a pessoa torna-se meio, pela perda de valores e até a religião torna-se mercadoria, pois existe a teologia da prosperidade. Persiste a cultura do descartável.

NOVOS CAMINHOS E PARTICIPAÇÃO POPULAR

A economia de mercado dita as políticas, reproduzindo uma mentalidade dos grandes e acumulação de riqueza.

É preciso pensar:

Uma educação a partir da realidade em vista da cidadania; os movimentos sociais, as Igrejas, ONGs, Sindicatos e Organizações civis e aparelho estatal tem resistido ao crescimento econômico selvagem sempre defendendo o valor da vida e da dignidade da pessoa. O aparelho estatal não pode ser o único agente de transformação da sociedade.

Apelo às igrejas:

Diz o conselho mundial de Igreja: nós, Igrejas e crentes, somos chamados a encarar a realidade do mundo, a partir da perspectiva das pessoas, particularmente das pessoas oprimidos e excluídos. Somos chamados a sermos comunidades não-conformistas. Libertar-nos da postura imperial dominadora e sermos comunidades transformadoras, porque transformadas pela graça de Deus.

6.JULGAR A REALIDADE À LUZ DA PALAVRA DE DEUS
Individualismo afasta do Projeto de Deus

“Onde está o teu tesouro, ali também está o teu coração” MT 6,21
A Palavra ilumina como agir: uma economia baseada no individualismo e na acumulação de bens materiais afasta radicalmente de Deus porque Deus quer o bem de todos. Ou vivemos solidariamente como irmãos ou seremos todos infelizes num mundo trágico. Deus nos convida a sempre avaliarmos o que fazemos em todos os âmbitos: Social: profetas denunciam poderosos; Comunitário: a diária do trabalhador; Pessoal: fuga da corrupção, prática da partilha e Eclesial: justiça e fraternidade.

A Bíblia e o Bem Comum:

Órfão, viúva e estrangeiro; Atividade econômica e relações com Deus; Ano sabático e jubilar: restauração da justiça e do bem comum; Superação das conseqüências da injustiça social; Deus não quer nenhum de seus filhos sem meios de sobreviver com dignidade e de se desenvolver.

O descanso da terra:

Deus criou o mundo onde nele o homem deveria crescer, multiplicar-se, viver em fraternidade e cuidar da criação, mas como seres criados à imagem e semelhança do Criador, amando o que foi criado, zelando pela criação e não destruí-la ou usar-la de forma irresponsável ou egoísta. De tempos em tempos deve haver um descanso, incluindo a terra.

A Bíblia quer justiça para todos:

A História humana é marcada por ambições, explorações, injustiças, ganância; o respeito ao direito do pobre, nos textos bíblicos é uma exigência de fidelidade a Deus, sem isso, Deus não aceita nenhum tipo de conversa, oração, louvor.

Créditos e juros:

Bíblia tem preocupação com os pobres também quando trata do empréstimo, dos juros e penhores. Os livros do Deuteronômio e Levitico insistem em não emprestar com juros ao pobre. “Dá a quem te pede – dizia Jesus – a quem quer pedir-te emprestado, não vires as costas”. Mt 5,42

Os direitos dos trabalhadores:

Deus se preocupa com o salário a vida de trabalha. Não aceita a exploração do trabalhador. “vede o salário dos operários que fizeram a colheita em vossos campos....Tg 5,4; Deus cobre de bens os famintos e despede os ricos sem nada.

No Reino de deus a lei é a solidariedade:

Artigo 22 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: o princípio ético universal. A solidariedade faz da humanidade uma família onde todos se protegem mutuamente: ter um novo olhar para a justiça econômica; parábola dos trabalhadores da vinha; Multiplicação dos pães: partilha; Tive fome e me destes de comer; Filiação divina: exigência de fraternidade e solidariedade;

Recriar e recompor laços:

“O teste da verdadeira organização de um país não é o número de milionários que possui, mas a ausência de fome em sua população”. Ghandi

Experiências de solidariedade:

Ajudas emergenciais; Necessidade de ações transformadoras; Organização civil como complemento às ações governamentais;

No Brasil:

Caritas Brasileira; Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE; Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor – CAPA; Serviço Anglicano de Desenvolvimento – SAD

Ainda:

Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida; Experiências de economia solidária e suas elaborações teóricas; Economia indígena; Iniciativas de economia de comunhão; Campanhas da Fraternidade; Semanas Sociais.

O papel do estado:

Garantir o crescimento e funcionamento do sistema econômico participativo; Ouvir os diferentes setores da sociedade; Reconhecimento do direito universal de proteção social; Justiça tributária; 10% mais pobres: 32,8% de tributos; 10% mais ricos: 22,7%

Os discípulos de jesus e a outra economia:

Economia do Império Romano: resultado de política fiscal fundada nos impostos; A economia cristã: distribuição da riqueza, destinada a socorrer os mais vulneráveis da vida civil e social. Todos os que abraçaram a fé estavam unidos e tudo partilhavam “.....(At 4,32); Quem acumula mais que o necessário pratica crime; História de pecado e de busca de santidade.

7.AGIR PARA TRANSFORMAR:

“Senhor, eu reparto aos pobres a metade dos meus bens e, se prejudiquei alguém, restituo-lhe o quádruplo” (Lc 19, 8)

COMO VIVER HOJE A BOA NOVA DE JESUS?

  • Âmbito social: servir a Deus e não ao dinheiro exige a promoção de políticas que dêem a todos o direito de desenvolver seus elementos e viver dignamente com participação consciente por uma sociedade justa, sabendo escolher os dirigentes do país e com acompanhamento de seus mandatos
  • Âmbito comunitário: está atento ao que acontece à nossa volta; Unir forças na luta por direitos, igualdade e organizar a sociedade.
  • Âmbito eclesial: Serviço a Deus e aos irmãos; Espaço para educação e mobilização conscientizando para uma serviço de causa sociais importante e condizente com o projeto de Deus.
  • Âmbito pessoal: educar-se e educar para o respeito aos direitos de todos, para o cuidado com a natureza e a Justa hierarquia de valores.
  • Profetismo: a humanidade desperta para uma nova existência de solidariedade mundial que exige uma concepção planetária do bem comum para dar início a outra civilização.
  • Denunciamos a perversidade de todo modelo econômico que vise o lucro, sem se importar com a desigualdade, miséria, fome e morte.
  • Urgência de ações coletivas: Campanha da Fraternidade Ecumênica; Enfrentamento crítico das questões; Economia deve garantir sustentabilidade e qualidade de vida para todos; Linhas de compromisso concreto. È urgente um Diálogo permanente, Articulação das forças sociais e colaboração entre as Igrejas e a sociedade.
  • ECUMENISMO E OPÇÃO PELOS POBRES: Abandonamos a competição entre Igrejas e buscamos a unidade na promoção da economia a serviço da vida, bem a formação de agentes demos exemplo de consumo ético e consciente com trocas solidárias de bens e serviços, de finanças solidárias, criando redes e cadeias produtivas solidárias com meios alternativos de comunicação e diálogo e resistência à teologia da prosperidade. O reino de Deus não é só oração, é também testemunhar no mundo os valores do Evangelho.
  • EDUCAÇÃO PARA A SOLIDARIEDADE: As Igrejas são espaços para processos educativos e desenvolvimento de processos de educação popular, de testemunho de solidariedade e de educação sobre o consumismo, também e sobre tudo para as famílias.
  • QUANTO À ECONOMIA SOLIDÁRIA E COMPROMISSO SOCIAL: São lutas importante para a vida digna: incluir a alimentação adequada entre os direitos previsto na constituição Federal; Erradicar o analfabetismo; eliminar a prática do trabalho escravo; combater o trabalho infantil; denunciar os abusos do mundo do trabalho; garantias legais de trabalho e salário; criação e multiplicação de bancos de microcrédito; criação e multiplicação de bancos comunitários; buscar a superação da pobreza tanto pela política como pela religião; exigência de auditoria da dívida pública; lutar em favor de uma tributação justa e progressiva; exigir políticas econômicas redistributivas; buscar o direito à alimentação que deve ser prioridade política; construir novamente o conselho de Seguridade Social.

    QUANTO AO MEIO AMBIENTE E REFORMA AGRÁRIA

  • Preservar o meio ambiente; Impedir a depredação dos recursos naturais; Garantir o acesso à água; Continuar a luta pela reforma agrária; Mobilização de apoio ao Plebiscito de iniciativa popular pelo Limite de Propriedade da Terra, em defesa da Reforma Agrária e da Soberania Territorial e Alimentar.

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