quinta-feira, 4 de março de 2010

IDENTIDADE

Diante da cultura da morte, visão INTEGRAL do ser humano.

Entrevista com Laura Tortorella, do instituto “Mulieris Dignitatem”

Por Carmen Elena Villa

Para que o homem e a mulher entendam melhor sua identidade, é necessário que olhem para si mesmos como seres criados à imagem e semelhança de Deus. Que descubram e valorizem seus próprios dons, que são enriquecidos quando se vive a reciprocidade.

As ideologias que recortam esta visão integral e que trazem consequências, como as conferências mundial do Cairo, em 1992, sobre o crescimento da população e a de Pequim, em 1995, sobre a “saúde sexual e reprodutiva”, reduzem de maneira alarmante a dignidade do homem e da mulher e promovem cada vez mais novas manifestações da “cultura da morte”.

Sobre este tema e sobre como assumir a masculinidade e a feminilidade de maneira integral, Laura Tortorella, do instituto Mulieris Dignitatem para estudos sobre a identidade do homem e da mulher, da Pontifícia Faculdade Teológica São Boaventura – Seraphicum, responde a essa entrevista.

Laura Tortorella é diretora do programa de pós-graduação em “Gestão das crises pessoais e interpessoais”, que procura oferecer soluções às crises do ser humano nas diferentes etapas da vida.

-A Assembleia do Conselho de Estrasburgo aprovou, no último dia 27 de janeiro, um documento sobre a saúde sexual e reprodutiva. A seu ver, quais serão as consequências da posta em marcha deste documento sobre a mentalidade antivida e sobre o feminismo?

Laura Tortorella: O documento fala de “saúde sexual e reprodutiva” referindo-se à possibilidade dada também aos menores, sem informar os pais, de ter acesso à contracepção, ao aborto gratuito e seguro, à esterilização, à fecundação artificial e à livre “orientação sexual”. As consequências de tal documento serão certamente alarmantes: uma aliança (feministas de outras ideologias, lobby farmacêutico), a favor da “cultura da morte”.

-Passaram-se 15 anos desde a Conferência de Pequim sobre saúde sexual e reprodutiva. Como você acha que mudou a mentalidade no mundo com relação ao aborto como direito e à concepção da mulher?

Laura Tortorella: Os programas de ação da Conferência Mundial do Cairo e depois de Pequim contribuíram para criar um clima de “cultura da morte” e o próprio documento da Assembleia do Conselho da Europa, de Estrasburgo, que mencionamos antes, encontra pontos aí.

Está claro que tais ideologias marcaram e feriram profundamente os direitos da pessoa e o direito à vida. Nestes documentos, onde se fala de “direito à saúde sexual e reprodutiva”, na verdade se solicita não tanto o direito à saúde, e sim o direito ao aborto.

Penso que só se pode usar uma arma para deter esta cultura da morte: a formação, sobretudo das novas gerações, em uma cultura da vida. Todas as nações, especialmente as latino-americanas, que ainda conservam tantos valores, deveriam fazer respeitar o valor que ainda pode servir como gancho para salvar a sociedade inteira: a família. Isso se torna mais urgente que nunca, para defender a primeira célula da sociedade dos ataques que recebe.

É justamente na família que as novas gerações podem aprender a respeitar a vida humana. Pensemos na necessidade de uma nova vida, na demonstração cotidiana do cuidado, da educação, do amor recíproco, do respeito. Pensemos no fato de que, por exemplo, na família se aprende a acolher a morte e a entender seu sentido.

-Como este documento feriu o significado de homem e mulher, e da reciprocidade entre ambos?

Laura Tortorella: Pretendendo libertar a sexualidade de cada preocupação e temor, cancelam-se termos como “maternidade”, “paternidade”, “família”, “casamento”, “responsabilidade” no âmbito da sexualidade. Deixam de ser dons e se convertem em direitos, depois se transformam em necessidades, decisões, exigências dos adultos.

Neste clima, tanto o homem como a mulher veem ofuscada a verdade sobre eles mesmos (igual dignidade e queridos por Deus um para o outro), a ser chamados a restabelecer um humanismo que volte a amar a verdade, a única que fará brotar as verdadeiras perguntas, as que levam à compreensão do sentido e que tornam o homem verdadeiramente livre.

-A partir do programa que você dirige, “Gestão das crises pessoais e interpessoais”, como se pode enfrentar esta crise à luz do Evangelho e de uma ética cristã, sem reduzir o papel do homem ou da mulher?

Laura Tortorella: Muitas são as crises que a pessoa deve enfrentar em diferentes etapas da vida. Para gestioná-las, penso na importância de uma correta antropologia: formar as pessoas sobre alguns temas fundamentais e imprescindíveis para a vida.

Esta formação tem o valor pela vida concreta da pessoa porque não tira o foco da verdade: homem e mulher, criaturas de Deus, criados à sua imagem e semelhança. Somente colocando a originalidade masculina e feminina ao serviço do homem e promovendo o diálogo frutífero, a pessoa (homem e mulher), assim como a sociedade, conseguirão encontrar as respostas às aplicações práticas completas.

Creio que a mensagem central da Mulieris Dignitatem, a reciprocidade homem-mulher, pode ser a solução para restabelecer um equilíbrio na sociedade, que leve ao reconhecimento de valores comuns de referência para construir juntos a história: “humanidade significa chamado à comunhão interpessoal”. Os tempos parecem maduros e carregados de expectativas sobre um diálogo frutífero entre homem e mulher, baseado na reciprocidade, na mesma dignidade e na comunhão que leva à resolução de problemáticas atuais inseridas em um horizonte de sentido.

-Há alguns fenômenos aceitos socialmente, como o “direito à morte”, a fecundação in vitro, o não reconhecimento da dignidade do embrião. Como estes fenômenos afetam a psicologia da mulher?

Laura Tortorella: Afetam de maneira diferente o homem e a mulher, porque não levam em consideração a proteção da vida humana. Estas são tarefas comuns para o homem e a mulher. As consequências, quando falta um desses elementos, ainda são comuns hoje: o risco de ser vistos como objetos do mundo, que sabem manobrá-lo, mas inevitavelmente permanecem sufocados.

A maternidade, por exemplo, deveria voltar a ser um bem reconhecido. É a mentalidade que deve mudar novamente, voltando a apreciar a vida humana como o primeiro valor de uma sociedade que pretende ser considerada sociedade civil. Uma nova revolução do amor e de acolhimento da vida humana!

Anos de batalha e de reivindicação das feministas e de outras ideologias causaram um colapso da vida nas areias movediças da indiferença. As consequências disso são evidentes: direito à morte, fecundação in vitro, não reconhecimento da dignidade do embrião são somente algumas das problemáticas que surgem de uma mentalidade fechada na luta antivida. Eu me pergunto de que maneira estes fenômenos repercutem na psicologia da mulher, quem, mais de uma vez, em primeira pessoa, pode ser golpeada por tais problemáticas porque é a mulher quem tem a tarefa de aceitar, socorrer, velar pela vida e está claro que, quando esta não ocorre, devido a culpas que não são somente da mulher, é ela quem, em primeiro lugar, paga as consequências de certas decisões, também do ponto de vista psicológico.

Zenit

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