quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O vaticano não é rico

O vaticano não é rico


“O Vaticano não é rico”



Arquivado em: Entrevistas — Prof. Felipe Aquino at 9:03 pm on quarta-feira, janeiro 6, 2010



A
riqueza do Vaticano não pode ser analisada em termos absolutos, mas
comparada com os outros Estados; nesse sentido é o menor orçamento
entre as nações.



Entrevista com John L. Allen Jr, vaticanista, é o correspondente da NCR. Alguns dados retirados da entrevista:



O orçamento anual do Vaticano é de US$
300 milhões; 50% deste orçamento vem de doações; a avaliação das
propriedades do Vaticano deveria se aproximar dos US$ 500 milhões; nos
Estados Unidos, a Universidade de Notre Dame – tem um orçamento
operativo de mais de US$ 1 bilhão - isto é, pode financiar o Vaticano
três vezes.



Entrevista com John L. Allen Jr.



A reportagem é de Andrew Chernin,
publicado na revista “Qué pasa” e no sítio “Religión Digital”,
31-10-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.



Como a Igreja e a Santa Sé se financiam?



O orçamento anual do Vaticano é de US$
300 milhões. Basicamente, eles têm três fontes de renda: a primeira são
as doações de igrejas locais e conferências de bispos em todo o mundo.
As paróquias são obrigadas a entregar dinheiro às dioceses, e as
dioceses são obrigadas a entregar dinheiro para o Vaticano.



Qual é a segunda?



Os investimentos. Em 1929, a nova
República italiana pagou ao Vaticano uma enorme quantia por todas as
propriedades que ela lhe havia confiscado. Essa quantidade, que hoje
seriam de várias centenas de milhões de dólares, foi investida em uma
carta de investimentos de bônus e ações que ainda existe e que, a cada
ano, entrega renda ao Vaticano.



Resta a última.



O Vaticano é dono de cerca de 700
propriedades, principalmente em Roma, mas também em toda a Itália.
Muitas delas são arrendadas a companhias e a pessoas, como lojas ou
departamentos. Então, a cada ano, há dinheiro que chega por esse
caminho.



Isso é suficiente?



Todo ano, em geral, eles andam muito
apertados com esse orçamento, e não se sabe se ganharão o suficiente
para pagar os gastos do Vaticano.



Falo das doações. São muito fundamentais?



Cobrem 50% do orçamento anual. As outras duas contribuem com 25% cada.



Em quanto estão avaliadas as propriedades?



O Vaticano diz que seu patrimônio, que
inclui bens raízes, chega a US$ 770 milhões. O grosso dessa cifra são
as propriedades. Então, no total, a avaliação deveria se aproximar dos
US$ 500 milhões.



Eles estão com números vermelhos ou azuis?



Desde o final da década de 70 até o
começo dos 90, eles estavam com números vermelhos quase todos os anos.
Depois, chegou um cardeal norte-americano de Detroit encarregado da
operação financeira, que era conhecido por ser alguém habilidoso com o
dinheiro. Ele corrigiu o déficit, e eles obtiveram números azuis por
vários anos. A partir daí, veio uma crise financeira, e voltaram a ter
números vermelhos, mesmo que o déficit não tenha sido muito grande. Em
geral, a Igreja não obtém excedentes significativos.



Então não se poderia dizer que a Igreja é rica.



Eu colocaria desta forma: o orçamento
operativo da Igreja é de US$ 300 milhões. Nos Estados Unidos, a
Universidade de Notre Dame – que é a maior universidade católica do
país – tem um orçamento operativo de mais de US$ 1 bilhão. Isto é, pode
financiar o Vaticano três vezes. O patrimônio do Vaticano – quase US$
800 milhões – é semelhante ao que é entregue às organizações sem fins
lucrativos dos Estados Unidos como doação. Meu ponto é que, se medirmos
pelos padrões das organizações sem fins lucrativos, o Vaticano não é
particularmente rico. O que acontece é que, diferentemente das
organizações sem fins lucrativos – em que o item que absorve mais
capital é o pagamento de salários –, no Vaticano, a maioria dos
“empregados” são sacerdotes ou freiras que ou não recebem salário ou
paga-se-lhes o mínimo. Essa é a forma pela qual o Vaticano pode manter
as coisas andando com um orçamento que, no mundo das organizações sem
fins lucrativos, seria considerado bastante modesto.



Qual é o departamento encarregado das finanças da Santa Sede?



A Prefeitura dos Assuntos Econômicos.



Como ela funciona?



Um cardeal – Sergio Sebastiani – é o
presidente emérito. Ele tem uma junta de consultores. Além disso,
existe um conselho de cardeais que assessora a Prefeitura na
administração financeira. Esse conselho, por sua vez, tem uma junta de
consultores que são profissionais financeiros, especialistas em
investimentos etc.



Que perfil tem a pessoa que chega a esse cargo?



O Papa o nomeia. Quase sempre é um
bispo italiano veterano que tem reputação de saber lidar com o
dinheiro. Informalmente, se subentende que deve ser italiano porque há
muita interação com o sistema bancário desse país.



Como você descreveria a atual gestão?



São imensamente conservadores. Fazem
investimentos de muito baixo risco. Sei que, muitas vezes, foi
frustrante para os cardeais que proveem especialmente dos Estados
Unidos e da Europa, porque a Santa Sé demora em adotar algumas das
práticas básicas para a administração e investimentos que são usadas em
outras partes do mundo. Eles publicam um balanço financeiro anual. Mas
não é divulgado. Não há uma auditoria independente das finanças. Ao
longo dos anos, muitos cardeais queixaram-se privadamente comigo de que
obteriam melhores retornos de investimento se pudessem atrair pessoas
externas que tomassem decisões responsáveis, mas ligeiramente mais
audazes.



O problema passa pela modernização, então.



É preciso entender que isso é o
Vaticano. O problema de fundo, acredito, é que se trata de uma
instituição cuja aproximação ao dinheiro é pré-moderna.



Em que sentido pré-moderna?



Anterior às práticas modernas de
contabilidade. Que não se sente cômoda com estratégias de investimento
do século XXI. Estamos falando de uma aproximação ao dinheiro que se
formou na Alta Idade Média. No entanto, estão lidando com católicos de
todo o mundo, que têm sim altas expectativas enquanto a transparência,
gestão e responsabilidade

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