quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Os leigos e a Igreja

Os leigos e a inquietação da Igreja


Evangelização

22-11-2009





Dom Severino Clasen


“Quando
olho para o céu, obra de tuas mãos, vejo a lua e as estrelas que
criastes: que coisa é o homem, para dele te lembrares, que é o ser
humano, para o visitares? No entanto o fizeste só um pouco menor que um
deus, de glória e de honra o coroaste. Tu o colocaste à frente das
obras de tuas mãos” (Sl 8).



O
verso deste salmo canta a sabedoria de Deus e o quanto ele confia em
nós. Ao mesmo tempo constatamos um mundo fragmentado, dividido, carente
do verdadeiro e grande amor. Perdemos o sentido da vida e vivemos
sufocados e magoando uns aos outros por falta de compreender qual é
nossa missão e nem sabemos mais qual a grande razão da vinda do Cristo
ao mundo. Vivemos num mundo como se estivéssemos ainda esperando a
vinda de Cristo, o Messias, entre nós. Esquecemos que ele já veio e foi
rejeitado, morreu por nossa causa, mas ressuscitou. Esquecemos que ele
está entre nós na eucaristia, nos outros sacramentos, na Sagrada
Escritura, no magistério da Igreja, na ação evangelizadora dos leigos e
nos fala através dos gestos concretos de amor de nossos semelhantes.



Por
toda ação dos leigos no testemunho de uma vida ética, que vise o bem
comum, a caridade, a solidariedade, o esforço em ser correto, presença
nas pastorais, cabe a nós celebrar com dignidade o dia do leigo exatamente na festa de Cristo Reio.



Grandes
ofertas surgem em cada dia na ânsia de buscar e propagar felicidade.
Mas as referências não possuem o princípio da unidade e da verdade.
Elas devem ser buscadas no coração de Deus e não na vontade humana. O
cuidado, a simplicidade, a humildade colocam o ser humano no seu devido
lugar e ao mesmo tempo se defronta no coração afável de Deus que é
criativo, amável e vigoroso.



Nessa
perspectiva queremos situar a comissão do Laicato em nossa reflexão.
Pois a grande razão de ser da Igreja é o leigo. Deus se revelou a nós
através de Jesus Cristo. Cabe a nós fazer a releitura da nossa missão e
da nossa presença na vida de Igreja para recuperar o sentido de
pertença, da genuinidade da nossa vida diante do destino final e da
nossa ação transformadora neste mundo. Precisamos retomar o sentido
original, a comunhão e a alegria de ter tudo em comum como nos fala os
Atos dos Apóstolos (At 3,42). Cabe a nós voltarmos para a liberdade do
serviço, da presença de fé animadora e transformadora.



Para
essas ações os leigos se organizam e se mobilizam ao encontro do pastor
que chama as ovelhas para os campos férteis e de pastagens saborosas. A
Comissão do Laicato procura os instrumentos que nos conduzam todos no
campo fértil, lá, ovelhas e pastores, todos anseiam por boas pastagens
seguras onde o lobo e o ladrão não importunam a vida do rebanho, como
reza o salmo 23.



A
partir do Concílio Vaticano II, a Igreja tomou consciência de si mesma
e das realidades humanas existentes. Sentiu-se interpelada por uma
humanidade que sofre e é socialmente marginalizada, espoliada,
abandonada. Viu-se interpelada a tornar-se uma presença evangelizadora
no meio desta realidade, abrir suas janelas ao mundo e se fazer
presente nos meios populares. Eis a missão dos leigos, através da
juventude, das CEBs, da família do Conselho dos Leigos. Não podemos
mais ficar esperando, o mundo caminha, as dores aumentam, as tristeza
assombram vidas e mais vidas. É preciso agir em mutirão e globalizar o
amor, a ternura, o carinho, a responsabilidade, a ação pastoral e
catequética para que a nossa vida esteja na mão do bom Pastor que é
Nosso Senhor Jesus Cristo.



Cabe
a nós redescobrir através da espiritualidade libertadora e
participativa das ações que fomentam a coorresponsabilidade, o
conhecimento profundo e a razão mais fecunda da nossa existência
enquanto cristãos comprometidos na construção de um mundo mais justo e
solidário. É preciso unir e somar forças, trabalhar, planejar juntos.
Desenvolver atividades de conjunto para que os reflexos sejam
percebidos na família, na juventude, nas CEBs e que os leigos se
organizem para assumir o papel específico na Igreja. O Conselho do
Laicato tem um papel fundamental na reflexão, na soma do planejamento,
na ação missionária com todos os serviços dessa comissão para
autenticar a nossa Igreja como o povo de Deus a caminho da salvação
definitiva.



Muitas
tensões surgem no corpo da Igreja por falta de definições, quanto a
ação estratégica dos leigos na Igreja. Pois o leigo não pode ser
reduzido a objeto de evangelização. Através dos milhares de
catequistas, agentes de pastoral, liturgistas, animadores de ações
pastorais em nossas Igrejas, o leigo é sujeito da evangelização no
mundo atual. Ele é convocado para testemunhar sua fé e suas convicções
no mundo do trabalho, na família, na escola, nas faculdades, nas
repartições públicas, na vida privada, enfim, em todo lugar onde ele se
encontra, seja sinal do Cristo ressuscitado e comunhão eclesial.
Ninguém precisa temer nada, pois há espaço, há função e há razão de ser
para todos. O clero, os religiosos, os leigos, os novos movimentos que
ardentemente desejam testemunhar e viver experiências de fé e de
seguimento a Cristo Jesus, tem sua razão de ser e que enriquecem a
Igreja. Ele é protagonista da própria evangelização. Orientado,
animado, fomentado e cuidado pelos pastores da Igreja, cabe aos leigos
e pastores buscarem caminhos comuns para que o mundo conheça que Jesus
Cristo está vivo entre nós. Através de nosso testemunho de vida somos
os portadores da nova ordem que salva o gênero humano e toda a sua
criação. Crescermos na integração com toda a criação como criaturas de
Deus misericordioso e amoroso. Em vista da valiosa, volumosa e intensa
presença e testemunho dos leigos na Igreja, faz sentido a sua
organização como laicato maduro, consciente e corresponsável no
dinamismo e razão de ser Igreja. A exortação apostólica
Christifidelis Laici (Vocação e Missão dos Leigos na Igreja e no Mundo)
afirma que “o desafio que os padres sinodais aceitaram foi o de indicar
os caminhos concretos para que a maravilhosa teoria sobre o laicato,
expressa pelo Concílio, possa converter-se numa autêntica praxe
eclesial” (n.2).



Com
freqüência, a partir do Concílio Vaticano II, encontramos incentivos,
esclarecimentos, motivações na ampliação da identidade-vocação-missão
do laicato, e pede ações concretas, dentre as quais a formação de
Conselhos Diocesanos de Leigos. Cabe aos leigos e pastores da Igreja
esclarecer ricamente o sentido e a missão do Conselho do Laicato.
Abramos espaços para crescermos nessa busca e construirmos a beleza da
identidade laica na Igreja. Uma não exclui a outra, mas na liberdade da
ação consciente, madura, equilibrada é o caminho capaz de agitar,
atrair, mobilizar a humanidade na busca da paz, do bem no verdadeiro
senso de justiça e fraternidade, valores invioláveis da ação
missionária de Jesus Cristo. Assim teremos a identidade e a razão do
ser da hierarquia, do laicato, dos religiosos, vida consagrada, novos
movimentos de experiência de vida evangélica, enfim, sustentamos uma
eclesiologia madura compreendida no seu sentido mais puro e autêntico.
Pois tem espaço para o testemunho do serviço, do acolhimento e da
cordialidade. Eis a meta, fazer que os corações de nossos irmãos e
irmãs que vivem na família, nas escolas, nos trabalhos profissionais,
no esporte, e em tantas outras iniciativas, vivam e testemunhem pela
vida alegre, livre, consciente de que Jesus caminha ao nosso lado e nos
interpela para uma vida fecunda de dons e de serviços. Esta é a maneira
mais sensata para crescermos ardentemente numa espiritualidade
libertadora a exemplo dos discípulos de Emaús (Lc 24,13ss.) que tiveram
a coragem e nada os impedia de vol
tarem
a pé, caminhando noite adentro, para anunciar aos irmãos em Jerusalém
que Cristo continua caminhando conosco e vive entre nós. E todos nós,
leigos, padres, bispos, religiosos, cada um na sua bela função,
dignidade, cordialidade, liberdade, idoneidade e responsabilidade
caminhamos juntos para experimentar o coração ardente, pois Ele caminha
ao nosso lado e nos acalenta no dia a dia da nossa existência. Por isso
o servimos através da Igreja o nosso espaço sagrado onde o encontramos
unindo nossos corações e o nosso grande desejo de construirmos um mundo
mais justo, mais fraterno e mais solidário. Este modo do leigo ser
Igreja renova a face da terra e unirá os povos. Esta é a força capaz de
eliminar a violência, apaziguar os humanos e construirmos a cultura da
vida, da paz e do amor.

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